por Rafael Zanatta
O interessante em circular pela cidade de Porto Alegre de ônibus é que a realidade se apresenta de uma maneira bem mais realista. No carro a gente não sofre com algum indivíduo “pedindo um real”, mas viaja tranqüilo com o som e o ar-condicionado ligado. (não vou entrar no mérito que o trânsito em determinadas horas é péssimo)
Hoje, ao invés de sentar no ônibus e ler minha revista, resolvi prestar um pouco mais de atenção à vida que se criou às margens do Dilúvio. Antes mesmo de embarcar, já se reparava nos mendigos que dormiam enquanto que um, na tentativa de conseguir umas moedas, se aproximou. Ninguém deu nada.
Quando entrei no ônibus sentei próximo à janela e admirei o famoso arroio que atravessa a cidade e termina no Lago Guaíba. Hoje, ele é praticamente um esgoto a céu aberto, não fazendo a mínima diferença se está coberto ou não. Diante de toda a “vida” que se criou às suas margens vemos mendigos de todas as idades, cães abandonados, lixo e algumas garças que devem conseguir algum tipo de alimento por ali.
Eis então que, no outro lado da rua, passa o “Ônibus Turismo de Porto Alegre”. Imagine você, responsável pelo turismo da cidade, vendo os turistas tirando fotografias da paisagem que acabei de descrever. É claro que o ônibus não tem alternativa e precisa passar por ali, mas é no mínimo curioso o fato de que os turistas não tiram fotos apenas dos pontos turísticos que definimos, mas do que os chama a atenção.
Nesse aspecto, identificar que um outro “tipo de sociedade” se criou às margens de um arroio é sim um bom motivo para uma fotografia (não necessariamente para o secretário de turismo).